Ontem estava voltando pra casa do cursinho, entre 12h45min e uma hora da tarde, fazendo o trajeto casual: desço, caminho pela avenida Juca Batista duas quadras e meia, dobro à direita na rua em que moro e caminho mais uma quadra e meia. Talvez nem tão casual, pelo fato de eu normalmente permanecer no cursinho para estudar após aulas, no intuito de não perder tempo com locomoção.
Ficar no Centro já tem se tornado de praxe, de modo que eu havia esquecido como é bonito o bairro em que vivo sobre o cenário outonal. O calor aconchegante do Sol, céu azul, hibiscos em flor, pássaros, tudo se convertem em boas vibrações. Eis que surge, na minha opinião, um dos seres mais misteriosos da natureza quanto à sua beleza passageira: uma borboleta. O que me cativa nesses insetos é o fato conhecido de possuírem apenas três dias de vida para reproduzirem-se e então falecer. Um instinto de sobrevivência fantástico, mas infeliz.
Parei decidida a observá-la. O inseto possuia cor amarela tão viva que seria um crime não reservar alguns minutos para admirá-lo. Porém, no momento em que parei, a danada saiu voando em direção ao azul do céu limpo, me deixando apenas com a vontade.
Pensei "Volta aqui! Deixa eu te ver! Fica mais um pouquinho, poxa!". Talvez seja isso que se faça com alguém que se ama muito. "Fique aí, parado, pra eu te ver, ou pelo menos saber que você está aí para mim quando eu precisar. Não me abandone, não vá atrás do céu azul, de coisas que você não tem certeza". Afinal, esse é o destino da maioria das pessoas, buscar o metafísico, o se que deseja, o que se sonha. Aquilo que é muito fácil e está ao nosso alcance, normalmente descartamos. Se houver reciprocidade no querer e no poder, então nossa vida se torna um pouco mais repleta, embora essa sensação de atingir o intatingível produza a quantidade de endorfina suficiente para querermos novamente experimentar.
Tive de me contentar com a partida do insetinho, pois afinal minha vida é muito comprida comparada a sabe lá quantos dias ou horas lhe restariam. Se tivesse tentado recolhê-la, pouparia-lhe o direito de aproveitar o resto de sua vida que ela nem mesmo fazia ideia que teria. Enquanto corremos atrás de borboletas, a areia da ampulheta escorre.